Aliança terapêutica

A relação/aliança terapêutica refere-se à qualidade da conexão entre o terapeuta e o cliente, sendo que uma relação sólida, positiva, de confiança e qualidade é um factor crucial para o sucesso da intervenção psicológica. Existe uma percentagem significativa da variância dos resultados da intervenção atribuídas à relação terapêutica - cerca de 30%, de acordo com Asay & Lambert (1999).

A colaboração entre o terapeuta e o cliente com o objetivo de resolver algum problema desse, surge como um conceito psicanalítico que, posteriormente, se torna comum às outras abordagens da psicologia. Freud foi o primeiro autor a descrever a necessidade desta relação de transferência positiva entre analista e cliente para o método de trabalho analítico. Bordin, em 1979, propôs um modelo teórico importante para a compreensão da aliança terapêutica, descrevendo os três componentes principais desta relação entre terapeuta e cliente (i.e., a aliança de tarefas; a aliança emocional e a aliança de metas), que estão inter-relacionados e influenciam-se mutuamente.

Aliança de tarefas:

Refere-se ao acordo entre o terapeuta e cliente em relação às metas específicas do tratamento e às tarefas terapêuticas a serem realizadas. Isso inclui a definição de objetivos, a estruturação das sessões terapêuticas e o estabelecimento de um plano de trabalho colaborativo. Este aspeto depende de uma clara comunicação entre terapeuta e cliente para estabelecer expectativas e metas realistas.

Aliança emocional:

Diz respeito à qualidade do relacionamento emocional entre terapeuta e cliente. Envolve a empatia, o respeito e a confiança mútua, elementos centrais na intervenção. Uma aliança emocional forte é caracterizada pela compreensão e aceitação incondicional do terapeuta em relação aos sentimentos e experiências do cliente. A aliança emocional também inclui a capacidade do terapeuta de proporcionar um ambiente seguro e de apoio para que o cliente se sinta à vontade para explorar questões emocionalmente desafiadoras.

Aliança de metas:

Refere-se à concordância entre terapeuta e cliente sobre os resultados desejados da terapia. Isso implica que ambos compartilhem uma compreensão clara das metas terapêuticas e trabalhem em colaboração para alcançá-las. A aliança de metas é fortalecida quando terapeuta e cliente têm uma visão comum do que é importante alcançar durante o processo terapêutico.

Uma aliança terapêutica eficaz envolve a presença de todos esses componentes, sendo importante que o profissional e o cliente trabalhem juntos para desenvolver e manter uma relação de trabalho positiva ao longo do tratamento.

No decorrer da intervenção, essa relação passa por diferentes etapas.

Na fase inicial do acompanhamento psicológico, o psicólogo e o cliente devem estabelecer um vínculo que servirá como base para a colaboração terapêutica. É fulcral que o cliente se sinta seguro, compreendido e respeitado pelo profissional.

Posteriormente, são definidos os objetivos terapêuticos em conjunto, sendo a aliança fortalecida à medida que terapeuta e cliente colaboram para desenvolver um plano de tratamento eficaz.

Durante a fase de trabalho efetivo, o terapeuta e o cliente devem estar ativamente envolvidos em explorar os problemas e desafios apresentados.

Após, estes devem procurar a consolidação das melhorias e ganhos alcançados, sendo que a aliança terapêutica desempenha um papel fundamental na motivação contínua e na prevenção e enfrentamento de possíveis recaídas. Antes da intervenção ser formalmente encerrada, é importante que o cliente se sinta apoiado e capacitado para continuar a progredir autonomamente.

A discussão sobre a relação entre a técnica e a aliança terapêutica tem levado a uma compreensão da bidirecionalidade desses fatores, enfatizando a dificuldade em separá-los no contexto da terapia. A formação da aliança terapêutica é considerada uma das primeiras tarefas do terapeuta com abordagens mais centradas na relação.

Diversas abordagens contemporâneas, principalmente aquelas com base cognitivo-comportamental, consideram a aliança terapêutica como um mecanismo central de mudança. Vários autores destacam a dimensão colaborativa da aliança terapêutica e reconhecem que a dimensão do vínculo é inerente ao processo terapêutico, adquirindo maior importância em momentos delicados de interação.

É importante destacar que a aliança terapêutica não é apenas uma consequência dos ganhos terapêuticos iniciais ou das habilidades relacionais do cliente e do terapeuta. Ela própria contribui para os resultados da psicoterapia. Exemplo desta ideia é o modelo transteórico proposto por Bordin, que reconhece a interdependência entre a técnica terapêutica específica de cada abordagem e a confiança do cliente na capacidade do terapeuta em momentos-chave da terapia.