Comunicação na psicologia clínica

Considerando a comunicação uma habilidade indispensável para o exercício da psicologia, bem como um elemento central para a condução de intervenções psicológicas, o desenvolvimento e aprimoramento das competências comunicacionais estabelecem-se como uma parte integral do trabalho do psicólogo.

Neste artigo, relembramos alguns aspetos fulcrais da prática clínica que dependem de uma boa capacidade de comunicação, e damos-lhe dicas sobre como melhorar esta competência para uma melhor experiência clínica.

Porque importa a comunicação?

Aliança Terapêutica

A comunicação eficaz permite que o psicólogo estabeleça um vínculo sólido e de confiança com o cliente, criando um ambiente seguro para explorar questões pessoais e emocionais, facilitando a abertura do indivíduo e tornando possível a conceptualização do caso, a formulação de um diagnóstico e plano de intervenção. Por meio da comunicação, é possível criar uma relação de suporte entre o psicólogo e o cliente.

Entendimento empático

É através da comunicação empática que o psicólogo compreende e valida as emoções, pensamentos e experiências do cliente. Essa compreensão permite a exploração dos problemas num ambiente seguro, livre de julgamento e preconceitos.

Transmissão de informações e orientações

O psicólogo precisa de ser capaz de transmitir informações relevantes de forma clara e compreensível para o cliente. Isso inclui explicar conceitos teóricos e técnicas terapêuticas, dar orientações sobre estratégias de coping e resolução de problemas, e fornecer feedback construtivo. A comunicação efetiva facilita a assimilação dessas informações pelo cliente e aumenta a eficácia da intervenção.

Promoção da mudança

A entrevista motivacional pode ser definida como uma forma de diálogo colaborativo, centrado na pessoa, nas suas significações, experiências e motivações, que visa a mudança de algum comportamento (Rollnick & Miller, 2013). Para o desempenho da entrevista motivacional, é essencial que o psicólogo possua competências comunicacionais específicas (i.e., perguntar, ouvir e informar) e adapte os estilos comunicacionais de acordo com a fase da mudança do paciente (i.e., pré-contemplação; contemplação; preparação; ação; manutenção) (Pochaska et al., 1994).

Comunicação Eficiente para Psicólogos: como melhorar a sua comunicação?

Pratique a empatia

Conforme mencionado, é essencial que o psicólogo consiga compreender as emoções, sentimentos, pensamentos, ideias e experiências do cliente através do quadro de referência deste. Tente compreender a perspectiva da outra pessoa e mostrar empatia nas suas interações, reconhecendo e validando os sentimentos do outro. A empatia ajuda a construir conexões mais fortes e promove um ambiente de comunicação saudável.

Escute ativamente

Todos os psicólogos são dotados de dois ouvidos e uma boca, sendo aconselhado utilizar estes órgãos nesta mesma proporção. Ouvir atentamente é essencial para uma comunicação eficaz. Concentre-se no que o seu cliente está a dizer, sem interromper ou ficar a pensar intensamente na sua resposta. Aproveite a linguagem corporal para demonstrar interesse.

Use linguagem corporal positiva

A comunicação não verbal desempenha um papel importante, seja em que contexto for. Em consulta, mantenha uma postura aberta e relaxada, estabeleça contacto visual, acene com a cabeça e evite cruzar os braços ou adotar uma linguagem corporal defensiva. Além disso, procure sempre respeitar o espaço pessoal do cliente, considerando, por exemplo, estudos da proxêmica.

Seja claro e conciso

Adaptar a linguagem utilizada ao cliente maximiza a compreensão e evita mal-entendidos. Evite usar jargões ou linguagem complexa quando estiver a comunicar. Expresse as suas ideias de forma clara e direta, e dedique tempo a desconstruir conceitos complexos relevantes para o caso, se necessário.

Faça perguntas abertas

Em vez de fazer perguntas que exijam apenas uma resposta dicotómica de "sim" ou "não", opte por perguntas abertas que incentivem o cliente a compartilhar mais informações. Isso estimula uma conversa mais profunda e ajuda a criar um diálogo mais significativo.

Faça afirmações

Elogie de modo a reforçar os progressos e promover a autoeficácia, realçando as competências e pontos fortes do cliente. Procure não exagerar e fazê-lo de forma genuína e pertinente.

Use a paráfrase

Mostre que está atento ao discurso e desenvolva de forma estruturada e simplificada o que foi dito. A paráfrase promove, uma vez mais, a reflexão do paciente e facilita um diálogo fluido. Seja claro, sucinto e não faça interpretações sobre o discurso, apenas devolva o conteúdo de forma mais organizada, sem repetir exatamente.

Explore a informação

Aceitar informação ambígua ou ficar com dúvidas sobre o que o paciente realmente quis dizer em determinado momento é um dos mais frequentes e graves erros na comunicação. Faça perguntas, peça exemplos e esclareça o que não ficou compreendido. A clarificação, além de ajudar o psicólogo a entender a situação de forma mais aprofundada, também pode promover a reflexão por parte do cliente.

Abrace o silêncio

O silêncio é uma parte importante da terapia, pois encoraja a autorreflexão e autocorreção. Estes momentos, comumente antecipados como constrangedores, permitem a integração das informações compartilhadas e a conexão com os seus pensamentos e sentimentos de maneira mais profunda, para além de dar a oportunidade ao cliente de assumir um papel ativo na sessão e expressar-se espontaneamente.

Lembre-se de que, tal como todas as competências, também a comunicação pode ser aprimorada de maneira contínua - e, para isso, a prática é fundamental. Cultive uma relação de cooperação e colaboração com o cliente, permeada pelo respeito mútuo, pela validação de seus sentimentos e pelo reconhecimento de que as escolhas cabem unicamente a cada indivíduo. Todo o trabalho do psicólogo se desenvolve por meio e em torno da comunicação, pelo que apostar nesta competência, sempre pagará dividendos.